05/05/2010

Pura Poesia

A gleba me transfigura, sou semente, sou pedra.
Pela minha voz cantam todos dos pássaros do mundo.
Sou cigarra cantadeira de um longo estio que se chama Vida.
Sou formiga incansável, diligente, compondo seus abastos.
Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retornam à terra.
Minha pena é a enxada do plantador,
é o arado que vai sulcando para a colheita das gerações.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios.
Eu sou a mulher mais antiga do mundo,
plantada e fecundada no ventre escuro da terra.

Cora Coralina

Nenhum comentário:

Postar um comentário